Edifício AXA. Street art à moda do Porto

Rui Rio vs. graffiti. A guerra durou vários anos, meteu a polémica inscrição numa capa de uma revista "Rio és um FDP" - que o autor defendeu como "um fanático dos popós" -, um graffiti com a cara do antigo presidente da câmara, multas e mais multas e várias detenções e limpezas de paredes pela cidade. Uma canseira que pode ter chegado ao fim com o fim do mandato.
Pelo menos é isso que esperam alguns dos 22 artistas que pintaram as paredes de cinco pisos do edifício AXA, em plena Avenida dos Aliados. A exposição, organizada pela câmara, é a maior de street art alguma vez feita no Porto, diz o press release - mas não é que tenha havido muitas.
"O Porto sempre foi uma cidade bastante fechada à street art e a ideia desta exposição é dar a conhecer às pessoas de cá o trabalho dos portuenses, até porque a maior parte de nós tem vindo a fazer muitas coisas em cidades fora e no Porto nada", conta Frederico "Draw", um dos 22 artistas que participaram na exposição (19 deles são do Porto e há três convidados estrangeiros). "O Rui Rio era antigraffiti e não permitia nada, mas agora, desde as últimas eleições, a câmara parece-me estar mais disposta a este tipo de intervenções e esperemos que este evento consiga levar a street art para as ruas. Isto é muito giro, mas ainda é um espaço interior. O que para nós é bom, porque estamos bem representados, mas o interesse principal é conquistar o espaço cidade."
Além de Draw, Alma, Bifes, Bug, Dexa, Doc, Ego, Eime, Natz, Fedor, Godmess, Hazul, Mesk, Mots, Mr. Dheo, Neutro, Oker, Third e Virus compõem o conjunto dos artistas representados, todos do Porto. De Espanha veio Okuda, de França L'Atlas e de Itália Fra.Biancoshock para ajudar à festa. A exposição é de entrada gratuita e prolonga-se até 1 de Junho.
Para Draw, que pertence ao colectivo Rua e é organizador do Putrica, um festival de arte urbana em Freamunde, também no Norte, o Street Art AXA Porto é uma boa oportunidade para acabar com tabus que ainda possam existir. "Aqui ainda não tivemos muitas hipóteses de mostrar o nosso trabalho e há pessoas que continuam a achar que street art é vandalismo, por isso esperamos ter uma grande adesão amanhã [hoje]."
A inauguração, às 22h00, conta com nomes do hip hop como Maze, dos Dealema, um dos pioneiros do graffiti no Porto nos anos 90 (na altura conhecido como Ego), que a convite da organização voltou a pegar nas latas de spray e fez uma intervenção numa das salas do 6.o piso do AXA. Dos Dealema, também Ace participará no DJ Set, tal como Expeão e DJ Serial, dos portuenses Mind da Gap. Lá fora - até porque apesar de tudo estamos a falar de arte de rua - a companhia francesa Cie Par Terre fará uma performance na placa central dos Aliados, às 21h00, a propósito da abertura da 1.a edição do Festival de Performance Urbana Corpo + Dança.
Godmess, outro dos artistas, que combina graffiti com escultura, pintura, instalação e design, diz ter ficado "surpreendido" com o convite para intervir no AXA. "As políticas vigentes não o faziam prever", confessa. "Não esperava que a mentalidade mudasse tão rapidamente, mas espero que isto seja um ponto de viragem para o que já acontece em Lisboa e noutras cidades europeias."
No sétimo andar, Godmess pintou um mural com Alma, outro dos artistas, e no sexto tem uma instalação que consiste numa "interacção com um jogo de computador". Enquanto ainda acaba outra instalação, diz que este evento é bom "para abrir a porta a todos os artistas que estão no edifício". "É bom para mostrar o nosso trabalho e do que somos capazes de fazer, que não é só uma data de riscos nas paredes."
As intervenções no AXA foram provavelmente as de maior escala que fez na cidade. Pelo menos legais. "Aqui no Porto pintamos sobretudo em fábricas abandonadas", conta. "Ainda bem que o Porto é muito rico em edifícios abandonados." Neutro, outro dos artistas, concorda que até agora, e por causa de uma "política de repressão", "não havia uma oportunidade para aproveitar o que estes artistas podiam dar à cidade".

O objectivo desta exposição é, sem dúvida, mudar isso. Até porque a qualidade dos trabalhos na rua "acaba por ficar dependente do tempo de execução". "Se há pouco tempo e se não é permitido fazer trabalhos legais, isso é reflexo do que se vê na rua também. Estes trabalhos demoram no mínimo um dia, dois dias a fazer, o que ilegalmente seria impossível."

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